quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Origem do Movimento "Os Caras Pintadas" no Brasil



Caras-pintadas foi um movimento estudantil brasileiro realizado no decorrer do ano de 1992 e tinha como objetivo principal o impedimento do Presidente do Brasil e sua retirada do posto. O movimento baseou-se nas denúncias de corrupção que pesaram contra o presidente e ainda em suas medidas econômicas, e contou com milhares de jovens em todo o país. O nome "caras-pintadas" referiu-se à principal forma de expressão, símbolo do movimento: as cores verde e amarelo pintadas no rosto.

"Fora Collor!!! Fora Collor!!!"

grito de ordem símbolo dos caras-pintadas, gritado e pintado

Origens

As origens do movimento remontam ao final da década de 1980 e início da década de 1990, época em que os estudantes brasileiros, representados pela UNE e pela UBES, tiveram grande protagonismo nas lutas sociais do país. Tal protagonismo deveu-se, sobretudo, às campanhas pela conquista do passe livre nos transportes e da meia entrada nos cinemas, no âmbito da aprovação da lei orgânica dos municípios, consequência da promulgação recente da Constituição brasileira de 1988.

Após o final da ditadura militar e a reconstrução das entidades estudantis, era necessário apaixonar novamente a juventude por uma utopia, como em 1968.

Danilo Zimbres, vice-presidente da UBES, gestões 1989/90.[2]

Governo Collor

O então presidente Fernando Collor de Mello havia chegado ao poder, em 1990, sob muitas críticas devido às interferências de grandes organizações empresariais na campanha presidencial. As frentes políticas, lideradas pelo PT e seu candidato derrotado nas eleições (Lula), alegaram na época que os resultados eleitorais foram fruto de manipulação da opinião pública, com participação inclusive e principalmente da Rede Globo de Televisão. No desenrolar do governo, o presidente Fernando Collor tomou diversas medidas de caráter antiinflacionário, como mudança de moeda, criação impostos (IOF) e redução de incentivos, aumento de tarifas públicas, dentre outras, que ficaram conhecidas por "Plano Collor". A medida de maior repercussão foi o "congelamento de ativos" ou "confisco" da poupança nacional, que sensibilizou fortemente a população de menor poder aquisitivo, que não tiveram dinheiro para pagar até impostos municipais.

Corrupção

O irmão do então Presidente da República, Pedro Collor de Mello, apresentou à Revista Veja, no início de maio de 1992, diversos documentos que indicavam corrupção no Governo Collor. A revista publicou posteriormente vasto material que implicava em crimes de enriquecimento ilícito, evasão de divisas e tráfico de influência, e comprometia a manutenção de Fernando Collor na Presidência. A população assistiu indignada a escalada de acusações de Pedro Collor a seu irmão (o presidente) e a Paulo César Farias (conhecido por PC Farias). As principais entidades civis do país (OAB, CNBB, UNE e UBES, centrais sindicais, dentre outras) iniciaram o "Movimento pela Ética na Política" no mesmo mês. O escândalo PC Farias torna-se a principal notícia no país.

Veja - O presidente sairá mais rico do governo?
Pedro Collor - Em patrimônio pessoal, sai. Sem dúvida nenhuma.
(…)
Veja - O que acontece com o dinheiro?
Pedro Collor - O Paulo César Farias diz para todo mundo que 70% é do Fernando e 30% é dele.

Páginas Amarelas de Veja[3]

29 de maio

Uma primeira reunião de estudantes aconteceu em 29 de maio, e chamou a atenção da mídia pelo grande número de pessoas, o forte engajamento político dos participantes e a forte rejeição ao presidente.
A Rede Globo estava passando a minissérie ‘Anos Rebeldes’, de Gilberto Braga, que falava sobre o papel dos estudantes contra a ditadura. Em nossa primeira passeata, a gente colou um cartaz que dizia "Anos Rebeldes, Próximo Capítulo"
Lindberg Farias, então presidente da UNE.[1]

CPI

Uma CPI instalou-se em 1º de junho, e o primeiro a ser ouvido foi o acusador Pedro Collor. Com o desenrolar das investigações, as acusações foram sendo substancialmente fundamentadas. A imagem que Fernando Collor passou durante a campanha presidencial, de "jovem bon vivent", "honesto" e "caçador-de-marajás", agora contrastava com a péssima imagem de "confiscador" e "criminoso" perante a população.

Agosto de 1992

O então presidente, em 1991
Após o recesso parlamentar de julho, o Congresso Nacional retomou a CPI que investigava o presidente Collor. Durante o mês de agosto as manifestações de repúdio ao presidente intensificaram muito.

11 de agosto

Uma passeata reuniu cerca de 10 mil pessoas em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP). As reuniões foram marcadas pela irreverência, diversidade política e apartidarismo. O movimento ameaçava abandonar o viés político, deixando de lado os partidos. Surgiram as primeiras pessoas com rosto pintado.
Os estudantes faziam questão de rechaçar a participação de partidos políticos num sinal claro de que os partidos não davam conta das reivindicações.
Maria Aparecida de Aquino, historiadora professora da USP.[1]

14 de agosto

O presidente Collor fez um pronunciamento em rede nacional de televisão, pedindo apoio à nação. O presidente convocou a população a vestir as cores nacionais (verde e amarelo) e sair pelas ruas no próximo domingo (dia 16), em resposta aos que o acusavam.

16 de agosto

Milhares de jovens tomaram as ruas das capitais vestindo roupas negras, e com o rosto pintado na mesma cor, em sinal de luto contra a corrupção. Logo a imprensa noticiou o movimento dos "caras-pintadas", numa referência a uma insurreição militar homônima. O domingo ficou conhecido como "domingo negro".
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Fora Collor!!! Fora Collor!!!
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grito de ordem símbolo dos caras-pintadas, gritado e pintado
No Rio, mais de 30 mil gritam em coro: [4]
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Ai, ai, ai, ai, se empurrar o Collor cai
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jingle da marcha dos caras-pintadas

25 de agosto

O Movimento pela Ética na Política exigia maior empenho da população nas manifestações contra a corrupção, para também pressionar o Congresso Nacional a favor do impeachment do presidente Collor. As manifestações cresceram grandemente com a proximidade da votação do relatório final da CPI. Na manhã do dia 25 de agosto cerca de 400 mil jovens tomaram o Vale do Anhangabaú (São Paulo). Aderiram em massa os estudantes de Recife (100 mil) e Salvador (80 mil).

26 de agosto


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Itamar Franco assumiu o cargo no pós-impeachment
Em Brasília cerca de 60 mil pessoas fizeram manifestações contra o presidente Collor, enquanto o relatório era votado pelo Congresso. O relatório foi aprovado com 16 votos a favor e 5 votos contra. O pedido de impeachment começou a ser elaborado pela Câmara dos Deputados.

18 de setembro

A proximidade da votação da abertura do processo de impeachment leva novamente milhares de jovens às ruas. Em São Paulo, cerca de 750 mil pessoas permaneceram até as 21 horas. O movimento social passava a dominar a situação e os rumos do país.

29 de setembro

A Câmara dos Deputados vota a favor do processo de impeachment. Foram 448 deputados a favor, 38 contra, 23 ausentes, 1 absteve-se. Nesse momento, já não havia apenas estudantes e jovens, mas sim milhões de pessoas. O comparecimento ao Vale do Anhangabaú não teve estimativa oficial. As pessoas pintavam o rosto de verde e amarelo e tinham a certeza da saída do presidente.

Saída de Fernando Collor

No dia 29 de dezembro de 1992, o presidente do Brasil renunciou ao cargo para preservar os direitos políticos. Porém, o Congresso Nacional realizou o julgamento, mesmo após a renúncia, na inércia dos acontecimentos e evitando desgaste junto à sociedade mobilizada.
Na década de 1960, os protestos eram pela mudança do regime político do país. Já os caras-pintadas só queriam a queda do presidente. Foi um movimento que se extinguiu em si mesmo depois de atingir seu objetivo.





As denúncias, que se intensificaram por todo o mês de maio, culminaram com a formação do Movimento pela Ética na Política, composto por 18 entidades civis, como centrais sindicais, OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
18.set.92/Folha Imagem

Estudantes saíram às ruas em 1992 para pedir o impeachment de Fernando Collor
No dia 29 de maio daquele ano, o movimento organizou um fórum pelo afastamento de Collor que contou com a participação de mais entidades, como partidos políticos e a UNE (União Nacional dos Estudantes).
A pressão da sociedade obrigou a instalação de uma CPI no dia 1º de junho de 1992, cujo início foi marcado pelo depoimento de Pedro Collor --no dia 4 daquele mês.
Com o avanço das investigações e com as declarações favoráveis ao afastamento do presidente --como as do então presidente do PT Luiz Inácio Lula da Silva-- sendo amplamente cobertas pela mídia, parcela de jovens da classe média se mobilizou.
A juventude começou a tomar as ruas em agosto. A primeira manifestação aconteceu no dia 11, em uma passeata marcada em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo) que reuniu cerca de 10 mil pessoas.
"A gente saiu do museu, pegou a avenida Paulista, desceu a avenida Brigadeiro Luiz Antônio e terminou em frente à faculdade de direito da USP (Universidade de São Paulo), no Largo São Francisco", diz o prefeito de Nova Iguaçu Lindberg Farias (PT-RJ), que na época era o presidente da UNE.
Tanto aquela como as demais passeatas foram marcadas pela irreverência, diversidade política e apartidarismo. "Os estudantes faziam questão de rechaçar a participação de partidos políticos", afirma a historiadora Maria Aparecida de Aquino, professora da USP. "Era um sinal claro de que os partidos não davam conta das reivindicações."
05.out.07/Folha Imagem

Cecília Lotufo, ex-musa dos cara-pintadas, hoje aos 33 anos: "conquista de todo nós"
No dia 14, Collor foi à televisão para convocar a população a vestir verde e amarelo e a sair pelas ruas no domingo, 16, em resposta aos que o atacavam. Mas aquele dia ficou conhecido como "domingo negro" --os jovens saíram às ruas vestindo roupas negras e pintando o rosto da mesma cor em sinal de luto contra a corrupção.
Em Salvador (BA), cerca de 20 mil estudantes também se vestiram de negro e pintaram o rosto de verde e amarelo. Mas as manifestações se avolumaram a partir do dia 25 de agosto, quando o Movimento pela Ética na Política pediu por mais manifestações públicas.
Naquela mesma manhã, 400 mil estudantes com os rostos pintados voltaram ao Masp, mas dessa vez seguiram para o Vale do Anhangabaú. "As passeatas começavam entre 11h e meio-dia. Os estudantes que ainda estavam em aula, pulavam os muros para acompanhar a passeata", afirma Lindberg.
Em Salvador, 80 mil pessoas participaram de uma passeata gritando "fora Collor", enquanto outras 100 mil faziam o mesmo em Recife. No dia seguinte, em Brasília, 60 mil pessoas aguardavam a aprovação do relatório da CPI feito pelo senador Amir Lando (PMDB-RO), que recomendava a abertura de impeachment.
O relatório foi aprovado por 16 votos a cinco. O passo seguinte foi a formulação do pedido de impeachment, que foi entregue na Câmara no dia 1º de setembro.
Eraldo Peres/AP

O ex-presidente Fernando Collor está de volta, agora como senador por Alagoas
Era mais um motivo para que os caras-pintadas continuassem pelas ruas do país. A principal manifestação foi novamente em São Paulo, agora no dia 18 de setembro. Cerca de 750 mil pessoas ficaram até as 21 horas no Vale do Anhangabaú.
Finalmente, no dia 29, a Câmara dos deputados vota a abertura do impeachment. Em transmissão ao vivo, 448 deputados votaram a favor, 38 contra, 23 não foram à sessão e um se absteve. "Eu estava no Anhangabaú pra assistir a votação no telão", lembra a musa dos caras-pitadas, Cecília Lotufo. "A cada voto, era um abraço com desconhecidos. No final começou um temporal, mas ninguém ligou para a chuva: era uma conquista de todo nós."
Com o processo de impeachment aberto no Senado no dia 2 de outubro, Collor deixou a presidência interinamente. Mas no dia 29 de dezembro de 1992 ele renunciou abrindo espaço para seu vice, Itamar Franco. Apesar da renúncia, o Senado prosseguiu com o processo, que lhe tirou o cargo e o deixou inelegível por oito anos.
Aquela passeata foi comparada pela imprensa ao movimento estudantil de 1968. "A Rede Globo estava passando a minissérie 'Anos Rebeldes', do Gilberto Braga, que falava sobre o papel dos estudantes contra a ditadura", lembra Lindberg. "Em nossa primeira passeata, a gente colou um cartaz que dizia 'Anos Rebeldes, Próximo Capítulo'."
Para a historiadora, os momentos eram muito distintos. "Na década de 1960, os protestos eram pela mudança do regime político do país. Já os caras-pintadas só queriam a queda do presidente", diz. "É um movimento que se extinguiu em si mesmo depois de atingir seu objetivo."

Pimenta no dos outros é refresco

Editado por Adriana Vandoni em 9/05/2010 às 10:40 hs.
(Giulio Sanmartini) Em 1992, um jovem, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) apareceu na TV com o rosto pintado de verde-amarelo. Bradava palavras de ordem pedindo o impeachment do presidente Fernando Collor. O rapaz se chamava Lindberg Farias (foto).
Do movimento dos caras-pintadas contra o corrupto Collor, o estudante foi alçado à Câmara dos Deputados, com uma votação estupenda, e ainda reelegeu-se mas não cumpriu todo o segundo mandato. Seguiu direto para a prefeitura de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.
Nessa sábado (8) Lindberg que é ex-prefeito e pré-candidato do PT do Rio de Janeiro ao Senado, teve os bens bloqueados por determinação da 3ª Vara Cível de Nova Iguaçu, a pedido do Ministério Público Estadual. Lindberg não pode movimentar suas contas bancárias ou transferir para domínio de outros (trocar ou vender) seus imóveis e veículos por ser suspeito de favorecer empresas ligadas ao PT, como a  Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) teve seu contrato formalizado logo após a posse de Lindberg Farias, em março de 2005, com dispensa de licitação, no valor de R$ 1,246 milhão, que foi pago em nove parcelas. O objetivo declarado era a prestação de serviços de “desenvolvimento institucional da municipalidade, por meio de estudos, pesquisas, diagnósticos e aplicação de metodologias próprias”. Sob a justificativa de “notória especialização”, a concorrência pública foi dispensada. Mas o Ministério Público Estadual quer que Lindberg e outros seis réus devolvam o dinheiro, que teria sido desviado.
É triste e lamentável, ver o cara pintada que botou pimenta no larápio Collor, agora de rosto lavado  com água de esgoto jorrando do descarado peculato, esteja experimentando da mesma pimenta.
O grande erro desse jovem que liderou o maior movimento espontâneo dos últimos anos  contra a corrupção no Brasil,  foi ter-se juntado ao Partido dos Trabalhadores que institucionalizou a desenfreada roubalheira  banalizando-a.

Lindberg vive com R$ 890 por mês
Ex-presidente da UNE recebe ajuda do PSTU e sonha reeditar movimento cara-pintada contra FHC
Luís Edmundo Araújo
do Rio de Janeiro

A vontade de transformar o País e o discurso revolucionário continuam os mesmos. Só mudaram o palanque e a maneira de levar a vida. Derrotado na tentativa de se reeleger deputado federal, apesar de ter recebido 73 mil votos, o ex-presidente da UNE Lindberg Farias, 29 anos, não abandonou a política. Vivendo no Rio de Janeiro, com uma ajuda de custo mensal de R$ 890 mensais de seu partido, o PSTU, o líder estudantil da campanha que derrubou Fernando Collor de Mello sonha com um novo movimento como o de 1992, desta vez contra Fernando Henrique Cardoso. Para o ano 2000, almeja uma vaga na Câmara dos Vereadores do Rio.
Paraibano de João Pessoa, o ex-deputado voltou à capital carioca em fevereiro deste ano, logo que terminou seu mandato na Câmara Federal. Separado há oito meses e pai de um filho de 4 anos, retomou o curso de Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro e ganhou qualidade de vida. Hoje, ele faz exercícios diariamente. Quando não está correndo no calçadão de Copacabana, nada na piscina do Clube de Regatas Guanabara, na praia de Botafogo. "Perdi dez quilos em quatro meses." O "salário" pago pelo partido é usado para custear as contas do apartamento de Copacabana, herdado do pai, e as passagens de ônibus.
No discurso, Lindberg elogia as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) - a guerrilha de esquerda que controla 40% do território - e não descarta a revolta armada como uma "alternativa de ruptura para a atual situação do país". Sem a tribuna do Congresso, o ex-deputado tem justificado a ajuda de custo do PSTU participando ativamente de manifestações promovidas pelo partido. Lindberg afirma que sente saudades do momento político que viveu na época do impeachment de Collor e não por ter sido considerado o "muso das passeatas" dos estudantes caras-pintadas que foram às ruas promover manifestações contra o ex-presidente. "O assédio era natural porque eu era o referencial de uma geração" afirma Lindberg. "Mas isso não tem mais importância."
Maria Aparecida de Aquino, historiadora professora da USP.[1]

Um comentário:

  1. muito legal esse movimento, na minha opinião deveria ter mais movimentos como esse porque desse jeito é que agente conseguiria acabar com a corrupção do nosso pais.

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